sexta-feira, 6 de junho de 2008

O Ensino Regular e os Superdotados

No começo dos meus estudos era daqueles alunos destacados, que já sabem a aula antes da ministração do professor. Era elogiado pelos por eles e pela família. Gostava disto, afinal nunca fui modesto. Tive até um certo adiantamento. Sempre manifestei minha vocação para política e liderança, coisas que me seguem até hoje. Exemplo disto são os freqüentes artigos sobre política neste Blog. Tenho muita vontade de participar mais ativamente dos processos eleitorais, contudo, tenho adiado uma possível filiação partidária, Diante do desengano político atual. Estou também as portas de cursar ciência política na Universidade.
Antes de falar mais especificadamente sobre o tema, vou colocar um relato de minha vida escolar. Tive dificuldades na segunda fase do fundamental, alem de problemas de relacionamento. Era julgado por muitos intelectualmente adiantado, afinal, alem de ter opinião sobre tudo, discutia coisa que não eram comuns à minha idade. Contudo, nunca fiz o estereotipo “CDF”. Raramente tirava dez, detestava matemática, atrasava os exercícios, fui até reprovado um ano. O fato é que desenvolvi gradual desinteresse com o ensino regular. Assistia muita TV e lia muita revista. Fiz teste de QI. 147 (não que acredite que o teste de QI realmente meça a indigência das pessoas, mais é um indicativo e uma evidencia pelo menos de raciocínio lógico).
Fiz o ensino médio quase da mesma maneira, dividindo a opinião dos professores. Melhoraram os relacionamentos. Passei com facilidade nos dois vestibulares. Foi até mais fácil do que passar no colégio. Existe um abismo imenso entre o Ensino Médio das escolas públicas e o calouro procurado pelas Universidades. A escola ensina regras, códigos e macetes em Matemática. A universidade quer raciocínio lógico e aplicação prática. A escola conta os acontecimentos históricos, a universidade quer que o aluno saiba em que estes mesmos acontecimentos influíram para o mundo atual. Sobre isto sitarei mais em outro post.
Como entendia mais de raciocínio lógico que de regras e códigos, fiz quase 700 pontos na prova de matemática. Em história e Geografia, naturalmente ultrapassei os 800. Assim, com um relaxamento incomum para um vestibulando, passei pra os cursos de Ciências Sociais e História.Ocorre que nestes dias me identifiquei com um reportagem da revista Época de novembro de 2007, que falava das dificuldades das escolas em identificar e incentivar e incentivar superdotados. Segue abaixo a reportagem na integra:


Como educar os gênios
As escolas não conseguem identificar e incentivar as crianças superdotadas. Como aproveitar o potencial dos jovens talentos, para o bem deles e do país

Ana Aranha e Mariana Sanches
PRECOCE Franklin com a bola que joga dentro de casa. Ele aprendeu a ler sozinho, com 1 ano e meio de idade

O menino Franklin Oliveira Silva, de 1 ano e meio, engatinhava pela cozinha quando um boleto de crediário caiu no chão. “Casas Bahia”, o menino disse. O relato é de sua mãe, Bernarda Barros de Oliveira. “Pensei que ele tinha memorizado a propaganda.” Desde então, diz Bernarda, sempre que saía à rua com Franklin, ele identificava letreiros – da Caixa Econômica, do Bradesco. Seu marido, José Áureo da Silva, diz que as dúvidas acabaram quando o menino tinha 2 anos. “Ele leu ‘jacaré’ em uma placa da cidade de Jacareí.”
Criados no interior do Maranhão, José Áureo e Bernarda só estudaram até a 4ª série. Perceberam que com seu filho a história seria muito diferente. Compraram uma lousa para estimulá-lo a escrever. E decidiram mandá-lo mais cedo para a escola, para praticar. “Parecia um sonho”, afirma a mãe. “Mas a gente não sabia com quem falar.” Moradores da periferia de Barueri, na Grande São Paulo, eles dizem ter procurado todas as pré-escolas da região. Nenhuma aceitou o menino. “Uma diretora disse que não interessava se ele lia, ali só entrava com 4 anos”, afirma Bernarda. Convencidos de que o filho não podia esperar o ritmo das outras crianças, procuraram ajuda em universidades, clínicas de psicologia e até em programas de TV. “Fomos pedir uma escola especial para um vereador e ele perguntou qual era a deficiência do meu filho.” A reação que mais chocou a mãe foi a de um psicólogo do serviço público. “Ele disse que era para ter cuidado, porque a inteligência pode ser usada para o bem e para o mal”, afirma. “Ele perguntou assim: ‘A senhora sabe quem foi Hitler? Uma criança muito inteligente’. ”
A peregrinação de José Áureo e Bernarda mostra como o país está despreparado para identificar e educar seus maiores talentos. O que deveria ser motivo de júbilo – um talento raro, o potencial de realizar feitos extraordinários – é tratado, na maioria das vezes, como um problema. O Censo Escolar de 2006, do Ministério da Educação, registra 2.553 crianças e adolescentes superdotados no Brasil. Deveria haver 1,3 milhão, segundo os especialistas da área. A estimativa se baseia na lei das probabilidades: haveria, em qualquer população humana, 3% de pessoas com talentos especiais (assim como, no outro lado do espectro, haveria 3% de pessoas com deficiências de aprendizado).
Esse talento especial pode se manifestar de várias formas. Até alguns anos atrás, acreditava-se que o principal indicador da inteligência era o raciocínio lógico. Para isso, o teste mais famoso é o Q.I. (quociente de inteligência), inventado em 1905 na França. Hoje, divide-se a inteligência em quatro grandes áreas: talento acadêmico, criatividade, capacidade de liderança e domínio sensório-motor (leia o quadro ). Dentro de cada capacidade, há múltiplas habilidades. A motora, por exemplo, vai do esporte à eletrônica. Um menino que joga bem futebol, se estimulado, pode se tornar um grande cirurgião. Reconhecer uma criança superdotada, em qualquer dessas áreas, é crucial para ela própria, para sua família e para o país. Em alguns casos, para a humanidade. Uma dessas crianças pode, no futuro, criar uma sinfonia, descobrir a cura do câncer, escrever uma obra de arte.
Um exemplo de como o talento nato requer uma dose exacerbada de esforço é a história do pianista brasileiro Nelson Freire. Aos 4 anos de idade, ele tocava canções de memória no colégio das irmãs em Boa Esperança, sul de Minas Gerais. Os pais contrataram então as aulas de um maestro de Varginha, para estimular seu talento. Na 12a aula, o maestro disse que Freire não tinha mais o que aprender com ele. Para continuar o desenvolvimento musical do menino, a família inteira se mudou para o Rio de Janeiro. As aulas lá abriram oportunidades para sua futura carreira internacional.
Assim como Freire, todo superdotado é um gênio em potencial. Mas, sem o estímulo correto, ele não se desenvolve. É o destino de grande parte deles, já que os professores não são formados nas faculdades de Educação para identificá-los. Têm até uma visão estereotipada do que é ser superdotado. Acham que se trata apenas daquele aluno que tira 10 em tudo sempre, que toca Mozart aos 2 anos e resolve equações de cabeça na 1a série. “É como se fosse um grupo fantástico demais para existir”, afirma a psicóloga Cristina Cupertino, coordenadora do programa para talentos da rede de colégios Objetivo e consultora da Unesco para o Núcleo de Atividades de Altas Habilidades e Superdotação de São Paulo. “Identificar um superdotado vira uma questão quase esotérica, como quando se diz ‘Eu não acredito em gnomos’. ”
O tema está tão fora da pauta das escolas que a maior parte delas se recusa a tocar no assunto. De 15 colégios particulares procurados por ÉPOCA, apenas três dizem ter reconhecido alunos superdotados. Os outros afirmaram que nunca registraram um caso ou que preferem não dar entrevistas sobre isso.
MÚSICA, CHINÊS, MATEMÁTICA...Maria Cecília ao piano. Ela passou em uma escola para superdotados nos EUA, mas preferiu voltar para o Brasil
Lidar com os melhores cérebros não é fácil, em lugar nenhum do mundo. Nos Estados Unidos, um país que se esforça para desenvolver (ou mesmo importar) os maiores talentos, um em cada cinco jovens que abandonam a escola é classificado mais tarde como alguém de inteligência acima da média, segundo a publicação acadêmica Guia da Educação de Superdotados. “Como não há uma definição do governo federal do que é uma criança superdotada, fica difícil identificá-las”, diz Colleen Harsin, diretora da Academia Davidson, da Universidade de Nevada, nos EUA. “Outro problema é que os professores não são obrigados a passar por um treinamento para lidar com os jovens talentosos.”
Esse treinamento tem de incluir a habilidade para identificar características como a curiosidade, a persistência, o questionamento, o perfeccionismo e a boa memória. E outro treinamento, para os professores saberem o que fazer. Quando Franklin finalmente conseguiu se matricular numa escola, aos 4 anos, ele já lia livros infantis. “Mas ficou frustrado porque queria aprender a escrever e fazer contas, e na escolinha só tinha desenho”, diz Bernarda, sua mãe. Segundo ela, em vez de incentivá-lo a buscar seus interesses, a escola o tratou como uma criança exótica. “A professora colocava ele para ler na festa do Dia das Mães. Eu reclamava daquela gente em volta dele. Expõe muito o bichinho.”
Pensada para atender a maioria, a escola não soube lidar com Franklin. “A educação trabalha com a uniformidade do comportamento. Todos têm de pensar igual, vestir igual, usar a mesma linguagem”, afirma a pesquisadora Denise de Souza Fleith, doutora em Psicologia Escolar pela Universidade de Connecticut. Para incentivar o filho, os pais de Franklin economizaram para pagar uma escola particular. O pai diz que ele estava tão interessado nos estudos que ele resolveu ensinar o que aprendia na obra. Assim o menino aprendeu raiz quadrada. “Eu não sabia fazer a conta, dava os lados do triângulo e o resultado, e o Franklin aprendeu.” Na 3a série, as economias da família apertaram e o menino voltou para a escola pública. “Ele perdeu o interesse pela escola. Dizia que não precisava fazer lição porque já sabia. Começou a ver televisão e esquecer as coisas”, diz a mãe. No primeiro bimestre, Franklin tirou 7 em História e em Geografia, uma das piores notas de sua vida escolar.
Esse desinteresse é comum quando a criança superdotada fica presa a aulas que não a desafiam. O sistema escolar estava desestimulando seu potencial. Até que ele foi notado por um professor, na 4a série. “Ele nos chamou e recomendou que inscrevêssemos nosso filho na bolsa para superdotados do Colégio Objetivo”, diz José Áureo, o pai. Franklin, hoje com 11 anos, está desde o início do ano no novo colégio. E voltou a ter rendimento acima da média. No quarto que divide com os pais, onde faz sua lição de casa, Franklin me mostrou os cadernos da 5a série do Objetivo. Muitos deles estão quase preenchidos. “Durante a aula, enquanto os meninos não terminam a tarefa, eu vou adiantando a apostila. É só ler as explicações”, disse, enquanto batia o olho em um desafio do caderno de inglês. Sem parar de falar, ele resolvia de cabeça um jogo de palavras cruzadas em que tinha de escrever por extenso e em inglês os resultados da soma de números de três casas decimais.
Se a bolsa demorasse mais um ano, o talento de Franklin poderia ter sido prejudicado. “A partir da 5a série, o superdotado não identificado pode ficar seriamente desmotivado”, diz Zenita Guenter, fundadora e diretora do Centro para o Desenvolvimento do Potencial e Talento (Cedet), em Lavras, interior de Minas Gerais. “As meninas fogem do tédio para a dispersão, perdem a concentração. Os meninos ficam agitados e agressivos.” Nessa fase, eles apresentam comportamento similar ao de crianças hiperativas. Ambos os grupos têm muita energia e agitação motora e psíquica. É fácil confundir o diagnóstico. Em pesquisa de mestrado para a Universidade de Brasília, a psicóloga Vanessa Ouro Fino constatou que, entre 120 crianças superdotadas, 19 eram também hiperativas. E, num grupo de 120 crianças diagnosticadas como hiperativas, nove eram superdotadas – algumas delas, diz Vanessa, não tinham o distúrbio.
CEREBRAL. Allan em uma das salas do centro para superdotados de Lavras. Tímido, ele passa seu tempo estudando.
O que fazer para que esses talentos não se percam? Em alguns países, como os Estados Unidos, as crianças são encaminhadas para escolas especiais. Mas não há vagas para todos. Outra opção são os centros que oferecem as atividades extras depois da escola. No Brasil, um dos mais tradicionais é o Cedet. Fundado em 1993, ele atende hoje 800 alunos da rede pública e privada de Lavras. Para identificá-los, os professores das escolas apontam um aluno e preenchem uma ficha com 26 indicadores de talento. Se o aluno tiver boa pontuação, é acompanhado por um ano para ser avaliado. Zenita Guenter também foi uma adolescente talentosa. Participou de programas no Brasil e nos Estados Unidos e usou a experiência para elaborar a metodologia. No Cedet, o estudante escolhe os temas em que quer se aprofundar com a orientação de um especialista. As aulas são dadas por profissionais de cada área escolhida. Um médico ensina anatomia usando partes do corpo, um professor de Matemática da Universidade Federal de Lavras (UFLA) fez desafios aritméticos e um pintor dá aula de aquarela.
Na aula sobre mundo animal, um aluno da UFLA ensina o comportamento dos sapos. Os meninos, entre 10 e 15 anos, interrompem o tempo todo com perguntas e complementações. Exibindo a foto de um sapo, o professor pede para os alunos observarem a grande quantidade de ovos que ele pôs. “São muitos porque poucos chegam à fase adulta, devido aos predadores”, diz Allan Ferreira Fonseca, de 12 anos, que estuda na 5a série de uma escola particular. O professor mostra agora um sapo carregando alguns ovos nas costas. “Esse aí coloca poucos porque pode proteger do predador”, diz Allan, antecipando de novo o raciocínio do professor. Outro aluno pergunta se espécies diferentes cruzam para ficar mais fortes. Antes que o professor possa responder, Allan balbucia, enterrando-se na cadeira: “Não. Aí é seleção natural...”. Próximo da imagem que a maioria das pessoas tem de um superdotado, Allan é tímido, responde aos problemas de cabeça, não sai do quarto enquanto não acaba de ler um livro e vai à biblioteca aprofundar assuntos da aula – da evolução das espécies à história da China.
É difícil encontrar, na escola tradicional, professores com jogo de cintura para conduzir uma aula com alunos como Allan. “Muitos ficam intimidados. Sentem sua autoridade desafiada pela participação dessas crianças”, afirma Cristina Cupertino, consultora da Unesco. São muitas as histórias de relações difíceis entre superdotados e seus professores. Em um painel promovido pelo Cedet, um grupo de 15 alunos debateu o assunto com 20 professores. Eles concluíam o curso de especialização em atendimento de crianças talentosas, organizado pelo Cedet em parceria com a UFLA. Convidados a fazer perguntas aos professores, os alunos revelaram sua frustração. “O que vocês fazem quando um aluno pergunta o que vocês não sabem responder? Vocês se sentem encurralados? Vocês deixam de gostar do aluno que discorda? Perguntar prejudica a aula?” Para amenizar, Zenita pediu que cada um contasse uma coisa boa que um professor tivesse feito durante toda a vida escolar. Eles não se lembraram de nenhuma. Ao contrário. Um menino de 15 anos aproveitou para contar que, na 2a série, foi chamado de “sabe-tudo” pela professora. Ficou tão constrangido que pediu para mudar de escola.
“Tem professor que finge não ouvir nossas perguntas. Ou dá uma resposta sem sentido”, afirma Alyne Ferreira Costa, aluna do Cedet e do 2o ano do ensino médio de uma escola pública de Lavras. Ela diz que já se sentiu perseguida por professores porque fazia perguntas a que eles não sabiam responder. Hoje, diz que “se não há abertura para o debate” ela se cala. “Deixo de entender coisas importantes porque não quero bater de frente.” Alyne faz parte do programa de Bolsa de Iniciação Científica Júnior, outra parceria do Cedet com a UFLA. Acompanha alunos de graduação, mestrado e doutorado no laboratório de Física e Química da universidade.
O QUE SER? Filipe, no palco do colégio Móbile. Ele quer fazer Artes Cênicas, depois de estudar Medicina. Sabe tanto de Física que a professora criou uma aula avançada para ele
Poucos municípios têm opção de programas especializados de ensino para os superdotatos como Lavras. Em geral, s os pais desses alunos pedem para acelerar o ensino dos filhos. Pressionam a escola para transferi-los para turmas de alunos mais velhos. Os diretores costumam resistir à idéia, com o argumento de que a diferença de idade não é saudável para as crianças. Pesquisas internacionais mostram, porém, que depois de um período de adaptação os alunos que pularam de ano em geral não encontraram problemas de convivência.
O colégio Móbile, em São Paulo, é um dos que não adotam o conceito de superdotação. Mas conseguiu dar conta de um aluno talentoso de um jeito peculiar. Desde pequeno, Filipe Robbe, hoje com 17 anos, tem facilidade na escola. “Aprendeu a ler e escrever aos 5 anos, brincando de escolinha com a prima dois anos mais velha”, diz sua mãe, Malu Robbe. “Quando eu faço problemas mais difíceis, olho para o Filipe e sei que ele tem a resposta”, diz Maria da Glória Martini, sua professora de Física. “Ele não fala em respeito à classe. Se respondesse sempre, não tinha mais aula.” Para mantê-lo interessado, Maria da Glória criou um curso avançado à tarde, com conteúdos que não são dados no ensino médio.
Filipe tira 10 em quase todas as disciplinas. Como treineiro, no ano passado, fez pontos suficientes para entrar no curso de Medicina da USP, um dos mais concorridos do país. Além do desempenho, ele tem um repertório cultural acima da média para sua idade. Já ganhou dois concursos literários, aprecia Guimarães Rosa e James Joyce. Estudou teatro e assiste a peças pelo menos uma vez por mês. Diz que prefere o estilo “underground” e visões inovadoras de textos clássicos. “Se eu entrar em Medicina neste ano, quem sabe possa prestar Artes Cênicas aos 23”, afirma.
O Brasil começa a despertar para a necessidade de investir em alunos como Filipe, Allan, Alyne e Franklin. O Cedet inspirou o nascimento de seis centros pelo país. O governo federal criou um núcleo de superdotação por Estado para treinar professores a identificar e lidar com esses alunos. Mas ainda não estamos nem perto do investimento de outros países emergentes, como Cingapura, Taiwan e Coréia do Sul. “De seis anos para cá, os Tigres Asiáticos invadiram os congressos internacionais. Eles absorvem e aplicam tudo. Fazem enriquecimento (aprofundamento do conteúdo escolar), aceleração (quando um aluno pula séries), escolas especiais, acampamento de férias”, afirma Cristina Cupertino.
Os EUA vivem hoje um impasse parecido com o brasileiro: as escolas resistem à aceleração e não há programas especiais em todos os Estados. Foi o que prejudicou Annalisee Brasil, filha de um brasileiro com uma americana, nascida e criada nos Estados Unidos. Com 3 anos ela escreveu sua primeira frase: “I see a fish” (“Eu vejo um peixe”). Os pais de Annalisee dizem que não tiveram sucesso na saga por escolas que a aceitassem antes da hora. A mãe resolveu educar a filha dentro de casa. Com o passar dos anos, Annalisee foi ficando cada vez mais adiantada nos estudos. E distante da lógica da escola regular. O resultado foi uma infância isolada do convívio com outras crianças. “Eu não tive amigos. Sempre me dei bem com pessoas mais velhas, mas eu era muito nova para elas”, diz. “Quando surgiu a oportunidade de me relacionar com pessoas da minha idade, foi difícil. Hoje tenho amigos que vão dos 14 aos 18 anos e não noto diferença de idade.”

ISOLADA Annalisee Brasil, americana filha de um brasileiro, foi educada em casa até os 13 anos. Os pais mudaram de Estado para achar uma escola adequada.

Quando Annalisee completou 13 anos, a família decidiu procurar uma escola especial, nem que fosse preciso s mudar de Estado. “Ela já estava pronta para ir para a faculdade, mas precisava amadurecer a relação com colegas de estudo antes”, diz a mãe, Angi Brasil. Hoje Annalisee estuda na Academia Davidson, só freqüentada por quem tem Q.I. acima de 145 (a faixa considerada normal é de 90 a 110). A Academia têm um currículo mínimo, estabelecido pelo Estado de Nevada. Mas a maioria de seus 44 alunos terminam esses créditos rapidamente e se dedicam a projetos independentes, cursos na universidade ou cursos de aprofundamento.
Em seu primeiro ano, Annalisee fez uma aula de Literatura Gótica desenvolvida só para ela. Neste ano, ela escolheu os cursos com alunos da escola e da universidade. “Ela fez amigos mais próximos, a presença deles parece ser uma fonte de conforto e segurança”, diz Colleen Harsin, diretora da Academia Davidson. No ano que vem, Annalisee pretende se inscrever na faculdade de Bioquímica para, depois, se formar em canto. “Meu interesse em ciências começou com Física. Fiquei fascinada com a idéia das 11 dimensões em universos paralelos. Depois passei para neurologia. Mas a evolução das pesquisas em DNA e do gene humano sempre chamaram minha atenção”, diz.
A passagem da vida de estudante para a profissional pode ser um desafio para esses alunos. Alguns ficam perdidos com a variedade de interesses e não conseguem se concentrar em uma área. Pulam de uma faculdade para outra, com o risco de tornar-se eternas promessas. Outros simplesmente não se preocupam com o sucesso profissional. Preferem se dedicar a atividades que lhes dão prazer. E há os que só se satisfazem com desafios cada vez maiores. Este último é o caso de Maria Cecília de Oliveira. Ela cursa o 3o ano do Colégio Bandeirantes, em São Paulo. Nascida em Foz do Iguaçu, Paraná, aos 8 anos começou a fazer uma série de cursos extracurriculares: Inglês, Francês, Espanhol e Kumon (uma técnica oriental que trabalha o raciocínio matemático). Mais tarde fez piano, pintura e chinês. “As escolas em Foz não eram boas. Eu tinha de estudar sozinha para não ficar para trás”, diz. Quando chegou o momento de cursar o ensino médio, Maria Cecília começou a procurar outras escolas no Brasil e nos Estados Unidos. Foi aceita pelo Colégio Bandeirantes e por uma escola americana para superdotados. Fez um semestre no Brasil e foi para os EUA. Mas diz que ficou decepcionada com o ensino de lá. “A escola era muito voltada para a vida. Trabalho voluntário, pesquisa.” Depois de um semestre, Cecília voltou para o Bandeirantes. Seu Q.I. é 140. Assim como Franklin e Annalisee, Maria Cecília teve a sorte de ser identificada a tempo. Eles são uma pequena amostra dos milhares de talentos que andam perdidos pelo Brasil.

Um comentário:

Juliana Brandão disse...

Gostei da sua matéria e principalmente por ter incluído a proposta do CEDET. Não entendo porque o MEC continua ignorando essa experiência de sucessos e bate na tecla dos atendimentos para superdotados em salas de recursos. Sou professora de sala de recurso e especialista em Educação Especial para talentosos e bem dotados pela UFLA. Fiz estágio no CEDET e vi que aquilo sim é que é atendimento!!!!!